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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Aqui é o Ernesto. Vou à gráfica hoje.


“Batismo de Sangue” é um filme que relata a realidade brasileira durante o período da ditadura militar, marcado por um governo de teor autoritário e repleto de torturas e mortes. O longa apresenta os anos de maior rigidez desse regime, resultado do “medo” provocado pela Revolução Cubana e do conseqüente esforço do governo norte-americano para executar golpes de Estado.
            O Brasil, nessa época, era regido pela Doutrina da Segurança Nacional, segundo a qual os verdadeiros inimigos da órbita capitalista podem vir a serem os próprios cidadãos. Além disso, a economia do país se desenvolveu consideravelmente, alcançando a estabilidade e ficando conhecida como “milagre brasileiro”.
            A atmosfera, para aqueles que conheciam de fato o que acontecia nos bastidores da nossa ditadura, era de medo e terror diante do massacre cruel de militantes políticos, entre eles estudantes, professores, jornalistas, musicistas e missionários da Igreja Católica.
            Aqueles que não concordavam com o modelo político estabelecido eram apontados como terroristas e sofriam com uma série de torturas, sendo que milhares destes estão desaparecidos até hoje. Um dos grandes líderes do movimento de oposição ao regime militar foi Carlos Marighella, morto em 1969 em uma emboscada dos militares. O filme, por sua vez, nos mostra os momentos finais da vida de Carlos e como estes se sucederam. Capturados pelos generais, Frei Fernando e Frei Tito foram torturados e obrigados a entregar seu maior líder às mãos da morte. Frei Fernando é forçado, então, a marcar um encontro com Marighella através do código dos participantes da luta armada: “Aqui é o Ernesto. Vou à gráfica hoje”. O final todos nós sabemos: Carlos Marighella é morto com diversos tiros, sem qualquer tipo de chance de sair da armadilha com vida. Entretanto, é importante lembrar que a luta armada dos opositores se fez necessária. Guerrilheiros e militares puderam, a partir daí, lutar entre si “de igual pra igual”.
            A censura, instituída pelo AI-5, é também um grande marco dessa época. Era normal que pessoas comuns, como eu e você, não soubessem dos podres e absurdos que rondavam o regime militar. A comissão da censura analisava espetáculos e publicações: era divulgado apenas aquilo que fosse conveniente ao governo. Além do mais, parte da população que apoiava a ditadura chegava até mesmo a denunciar para o governo seus próprios vizinhos, contrários a tudo isso.
            Os pontos que citamos acima foram amplamente abordados no filme, que apresenta duras cenas de tortura e chocantes fatos verídicos. A ditadura teve seu fim em 1985 com a Lei da Anistia. Criminosos políticos foram perdoados e os militares nunca foram condenados pelos milhares de atentados à vida que cometeram.
            Fazemos aqui uma observação de que o Brasil é o único país que vivenciou uma ditadura militar e não condenou os verdadeiros vilões da situação: os militares. Se estes saíram livres, milhares de inocentes pagaram com suas vidas. E sim, estes que não foram devidamente punidos, ainda estão no atual governo brasileiro, com projetos de legalização da maconha.
            As ditaduras existem até hoje por aí, e isso é importante frisar. Síria e Egito são exemplos de países que vivenciavam até pouco tempo um regime militar. A Primavera Árabe, uma série de revoluções populares, é similar aos movimentos guerrilheiros que ocorreram no Brasil na época da ditadura: ambos queriam um governo democrático, livre de censuras. Lá no Oriente Médio, o encontro dos revoltosos foi marcado via internet. É como se um virasse pro outro e perguntasse “Vamos à gráfica hoje?”.


IMAGENS:




            <- Rachel Clemens com 5 anos de idade, mineira, se recusa a cumprimentar o presidente  João Batista Figueiredo, no dia 5 de setembro de 1979.

“Não estava muito impressionada com o fato de que iria almoçar perto do presidente e só depois, quando voltamos para o salão, que percebi o burburinho das pessoas comentando minha indelicadeza, mas me lembro que meu pai não chegou a me repreender. Daquele período eu ficava sabendo que muita gente tinha medo da polícia, mas nem sabia o porquê”, conta Rachel Clemens.







Frei Tito de Alencar Lima: fileira de baixo, 2º da direita para a esquerda.
Frei Fernando de Negreiros: fileira de baixo, 1º da direita.
Frei Oswaldo: fileira de baixo, 3º da direita para a esquerda.

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